domingo, abril 13

Seção TOP 5 - nº 1

TOP 5
Nº 1


5 ÁLBUNS PREDILETOS


***

DAVI LARA

1 - Bethânia canta Caetano, Maria Bethânia

A priori, uma coletânea não poderia constar nesta lista. Mas tendo em conta o repertório coeso (temática, estilo, cor, etc), uma refinada disposição das faixas e os arranjos espantosamente combinando entre si, essa premissa é dispensada. Ainda não houve álbum que tenha tido tanta repercussão (e que persiste) em mim, multiplicando-se em ecos nas paredes internas de meus estômagos e da minha caixa craniana. Não há momento em que eu não o escute.

2 - Tropicália, Caetano Veloso

Caetano é uma constante em meus assuntos e em minha leituras de mundo. Escuto Caetano desde criança e desde então adquiri o hábito (ou o hábito me adquiriu) de renovar o olhar sobre sua obra, fazer relarem-se outras facetas. Tropicália representa minha mais recente e feliz descoberta.

3 - Gil Luminoso, Gilberto Gil

A simples rúbrica de Gilberto Gil é motivo mais que suficiente para esse álbum estar nesta lista. Gil Luminoso é especial dentre tantos outros álbuns de Gil porque traz o foco dos arranjos e interpretações para as canções. Canções delicadas, contemplativas e com o vigor das obras impecáveis.

4 - Let it Be Naked, The Beatles

A minha descoberta dos Beatles (um marco e uma alegria pra mim) se deu por esse álbum. Mas dentre tantos outros mais bem acabados, se os próprios Beatles não ostentam especial orgulho pelo Let it Be, pra mim ele revela sem maquiagens e esplendidamente aquilo que mais sei gostar na música: boas canções.

5 - Acabou Chorare, Novos Baianos

Por ter conquistado minha confiança aos poucos, por representar uma cultura nacional e baiana e me dar algum modo de identificação com o lugar em que vivo. Enfim, porque eu gosto de Novos Baianos.



EDER FERNANDES

1 - Chega de Saudade, João Gilberto

Se João Gilberto é, para mim, o melhor intérprete que o planeta Terra já concebeu, e se a própria música Chega de Saudade é a minha predileta dentre todas já compostas, logo não seria surpresa nenhuma o disco encabeçar essa lista tão difícil.

2 - Abbey Road, The Beatles

Os melhores de todos os tempos fizeram em seu disco de despedida o que mais sabem fazer: emocionar gerações e gerações.

3 - Coisas, Moacir Santos

Fiquei horas indeciso entre três discos de jazz: Kind of Blue, do Miles; My Favorite Things, do Coltrane; ou Coisas, do Moacir. Escolhi Moacir por um simples motivo: não sei.

4 - Blood on the Tracks, Bob Dylan

O disco mais amargo da música popular. Sendo eu um sujeito amargurado, acho que combinamos muitíssimo bem.

5 - Gil Luminoso, Gilberto Gil

Só uma queixa: a falta de Se Eu Quiser Falar Com Deus no repertório. No mais, irretocável. Um registro sonoro, um documento de uma época boa para mim.



RODRIGO L.

1 - A Love Supreme, John Coltrane

O mais próximo do divino que um homem pode chegar através de um instrumento de sopro.

2 - Bringing it all backhome, Bob Dylan

Como letrista, Dylan jamais voltaria a alcançar o nível de Gates Of Eden ou It's AlRight, Ma. Num momento decisivo de sua carreira, encontrou a melhor maneira de dizer adeus ao folk tradicional (It's All Over Now, Baby Blue) e a mais pungente forma de adentrar o mundo da música elétrica - como que acompanhado duma cavalaria bêbada, grava Subterranean Homesick Blues, Maggie's Farm e outros tantos clássicos do blues.

3 - A Tábua de Esmeralda, Jorge Ben

Trata-se, basicamente, da maior invenção de um cidadão brasileiro. Desde que o escutei pela primeira vez, persisto, sem sucesso, numa busca ingrata por um disco que junte, ao menos num nível parecido, tanta harmonia, balanço e melodia (e que se utilize de cordas tão atrozes). Com tudo na medida certa, Jorge Ben saiu gravando Os Alquimistas Estão Chegando, Zumbi, Menina Mulher da Pele Preta, Brother, a absurda Hermes Trimegisto E Sua Celeste Tábua e mais - uma sequência de doze faixas que talvez só tenha sido perseguida de perto por um Tim Maia convertido.

4 - Cartas Catingueiras, Elomar

Conheço gente que tem orgulho de ser nordestino. Por mais que soe estranha a idéia de se orgulhar por algo absolutamente fortuito, pelo que não se possui mérito algum, é muito provável que uma audição de Cartas Catingueiras traga certa vaidade a tais pessoas. A mim, porém, esta pequena obra-prima da canção sertaneja só me lembra que ser nordestino é uma condenação - por mais citadinos que nos tornemos com o correr dos anos, há sempre a nostalgia do mato, do lampião e da viola. Espero o dia em que alguém a cavalo, nomeado Donairoso Profeta do Óbvio, chegará à praça e afirmará que o homem responsável pela "Incelença Para um Poeta Morto" é o maior compositor brasileiro vivo.

5 - Cartola (1974), Cartola

O mais sublime e melancólico samba já feito. Dentro de uma tradição repleta de grandes letristas (Noel Rosa e Nelson Cavaquinho - só para citar meus preferidos) e de grandes musicistas (outra vez Noel, Paulinho, Adoniran, etc.) Cartola consegue se sobressair como o maior: o sentimento que percorre Disfarça e Chora, Sim e, sobretudo, Acontece (que considero, ao lado de Detalhes, a mais bela canção já escrita em língua portuguesa) é qualquer coisa universal, milenar - reconhecível em qualquer canto do globo e em qualquer época, Cartola é o mais local e universal dos músicos brasileiros. Uma contundente resposta a quem alardeia a alegria tupiniquim como uma entidade natural, imutável e imbatível.



DANIEL OLIVEIRA

1 - Songs, Leonard Cohen

Ainda bem que Cohen não nasceu nos EUA, já que na condição de canadense ele é o maior cantor/compositor de seu país – e que Neil Young vá às favas. Sendo assim, não fica à sombra de Bob Dylan, estadunidense. Leonard Cohen é, para mim, o exemplo máximo de integridade e condensação numa letra de música nos aspectos sonoro, semântico, lingüístico e espiritual. Quanto às canções, donas de melodias irrepreensíveis. No tocante à voz, comparável à de Deus, se esse existir.

2 - A banda do Zé Pretinho, Jorge Ben

A música, indiscutivelmente a mais sensorial das artes, desperta, sim, reações fisiológicas. E Jorge Ben é a prova maior disso – você sente na medula. Só Amante Amado, uma das faixas, já valeria uns 5 álbuns (e ainda bem que Jorge Ben tem dezenas de álbuns, porque excluir cinco deles não é fácil). Se algum brasileiro extraiu mais da palavra portuguesa que Jorge Ben Jor, ele não existe nesta dimensão.

3 - Trilhos Urbanos, Caetano Veloso

Assim como na Inglaterra e nos EUA todo e qualquer amante da música era obrigado por lei (não é mentira) a indicar um beatle favorito (o meu é Paul), aqui no Brasil nos sentimos no direito e no dever de escolher um álbum favorito de Caetano Veloso. Eu achava que seria impossível pôr algum disco à frente do Tropicália (ainda mais com Clarice e Onde Andarás), mas a união de composições como Terra, O Homem Velho, Odara e outros, além da faixa-título, me fizeram mudar de idéia. Talvez por ser focado bastante apenas em voz e violão, o álbum goza de prestígio imerecido (um prestígio baixíssimo, note-se).

4 - The Velvet Underground and Nico, The Velvet Underground

A morte mais insólita do rock é a de Nico: andava de bicicleta, tomou uma queda e morreu. A carreira musical mais insólita do rock é a de Lou Reed: composições geniais na banda, mas na extensa carreira solo apenas um CD que preste (o Transformer). As vozes dos cantores são insólitas; os riffs são insólitos; as letras também; e as linhas de baixo; e a capa do disco; tudo – e um álbum perfeitamente perfeito.

5 - Mingus Ah Um, Charles Mingus

Sempre considerei Mingus Ah Um meu CD predileto de jazz, embora por muito pouco (ganhando milimetricamente de algum de Miles Davis ou Coltrane). Mas me enganei: ouvindo novamente, cheguei à conclusão de que se me obrigassem, para ser bem trágico, a sacrificar metade da obra de Davis em prol deste Ah Um, eu não hesitaria nem um pouco.

Um comentário:

Luís Filipe disse...

Adorei o blog. Ótimo gosto e análises inteligentes.